sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Eva Armisen
Apesar dos trinta anos [...] tinha ainda momentos como aquele em que desejava correr em vez de caminhar, dar passos de dança de um lado a outro da calçada, fazer rodar um arco, jogar alguma coisa para o ar e apanhá-la de novo, ou então ficar parada e rindo de... nada... nada, simplesmente rindo.

Que é que podemos fazer se temos trinta anos e, ao dobrar a esquina de nossa própria rua, somos invadidos subitamente por uma sensação de felicidade - absoluta felicidade! - como se tivéssemos de repente engolido um rútilo pedaço deste sol da tardinha e ele estivesse a arder em nosso peito, a despedir um chuveiro de minúsculas faíscas em todas as partículas do nosso ser, até nos dedos das mãos e dos pés?...
Oh! Não haverá um meio de exprimir essa sensação sem falar em "embriaguez e desordem"? Como a civilização é idiota! De que nos serve ter um corpo se somos obrigados a guardá-lo fechado um estojo como um violino raro, muito raro? [...]

Katherine Mansfield, in: Felicidade. Ed. Nova Fronteira

2 comentários:

  1. Eis o mal-estar na civilização, do qual Freud falou.

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  2. "Felicidade". . .

    Estou louquíssima para ler Katherine Mansfield,
    e em provar este aperitivo aqui, sinto que gostarei bastante.

    :*

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