segunda-feira, 11 de outubro de 2010

De fato, nos últimos tempos [...] não passava nada bem. Ora sentia uma inquietação sem nome, ora uma calma exagerada e repentina. Tinha frequentemente vontade de chorar, o que em geral se reduzia à vontade apenas, como se a crise se completasse no desejo. Uns dias, cheia de tédio, enevada e triste. Outros, lânguida como uma gata, embriagando-se com os menores acontecimentos. Uma folha caindo, um grito de criança, e pensava: mais um momento e não suportarei tanta felicidade. E realmente não a suportava, embora não soubesse propriamente em que consistia essa felicidade. Caía num choro abafado, aliviando-se, com a impressão confusa de que se entregava, a não sei quem e não sei de que forma.

Clarice Lispector, in: do Conto Gertrudes pede um Conselho / A Bela e a Fera. Ed. Rocco

3 comentários:

  1. Inquietação sem nome.

    Quando é possível nomear, fica mais fácil.

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  2. Que enormidade de coisas lindas

    Obrigaaaaaaaaaaada;

    PS. saudade de tu.

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