sábado, 7 de agosto de 2010

os sete pecados capitais


Preguiça

Já há muito o sol clareava a manhã quando ela abriu os olhos, espreguiçou por quinze minutos, rolou na cama e decidiu que aquele dia seria o dia de fazer nada. Que a poeira dormisse sobre todos os móveis e que a louça da antevéspera esperasse na pia pelo dia seguinte.







Luxúria

Deitada sobre o desencontro sentia ainda o cheiro do vinho azedo nos lençóis, os farelos que lhe beliscavam a carne e as marcas de todos os humores que deixavam em sua boca o gosto travado da última noite. Os beijos que tatuaram em seu corpo ásperas cicatrizes e as marcas das mordidas que ficariam para sempre em sua alma.




Ira

Um calor vermelho lhe subia das entranhas e a vontade era arreganhar as janelas e fazer o mundo todo ouvir aquele sentimento que ontem fora o eco de todos os uivos e hoje, pela manhã, despertava apenas a possibilidade do silêncio. Que ele se perdesse em outros abraços, que morresse em outros orgasmos. Que se fodesse pelas esquinas de outros desencontros.



Inveja

Foi a luz do sol que mostrou a ele suas carnes flácidas, a raiz branca de seus cabelos, os rictos que a maquiagem desfeita revelava. E ele vira claro o que a noite tornara opaco. Quisera ser a mulher da capa da revista com as carnes duras e o coração protegido por músculos comprados em academias e consultórios.






Orgulho

E ele saberia o que perdera quando se perdesse em outros abraços. Diria não, se ele voltasse e lhe pedisse um sim. Jamais o telefone, a campanhia da porta, o encontro de fim de noite.






Avareza

Trancafiar os sentimentos no fundo da alma. Economizar sorrisos. Capitalizar afagos. Atar no meio das pernas qualquer possibilidade de dádiva. Fechar as mãos a todas as posses que não a de si mesma. Dona de seus quereres os guardaria no cofre da alma atemporal e a ninguém seria permitida a chave. Ou o segredo.





Gula


Enlouquecida e nua devorou a dor.


Ro Druhens

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