quinta-feira, 29 de julho de 2010

"Meu coração não se cansa de ter esperança..."

Nonnetta
Demorei muito tempo para começar. Demoramos demais para perceber que é preciso descobrir o começo, algum começo. Nos atrasamos e aí lá se foi milhões de cartas, de erros, de um sim quando era não, e de um não que talvez pudesse nos iniciar. As outras pessoas também não sabiam, e mesmo se desconfiassem saber, não poderiam indicar um caminho que só nós mesmos seremos capazes de desvendar.

A vida é mata fechada, quem está vindo agora também está vindo para descobrir algo de novo. Ainda há muitas ilhas, ainda há um deserto infinito no coração de alguém. Ainda temos medo do escuro, e penso que cresce conosco, silencioso e sempre presente. Nosso caminho é feito do que trouxemos desde muito tempo, desde o intervalo, desde um adeus que não sabíamos, de uma solidão que nos abraçou sem que percebessemos.

Trouxemos a solidão desde que guardamos o primeiro bilhete de amor, desde que o primeiro beijo nunca se repetiu, desde que aprendemos a somar um com um e descobrimos que dois era melhor. Não aprendemos a ser sozinhos, nem tão pouco a sermos completos. Sempre nos faltará alguma coisa, sempre teremos alguma coisa ausente e tão doce que doerá no sorriso. Só a vida nos ensinará que para sermos mais, precisaremos nos dividir. Ser metade sempre será mais completo do ser inteiro.

Você deve se achar o máximo, deve se achar a estrela do céu de Hollywood e no fundo você não sabe nada, não sabe nem quem é você, nem quem você está prestes a se tornar. Na verdade você está longe, mas eu entendo, te compreendo, precisamos dilacerar o coração primeiro, entregá-lo a alguém que irá machucá-lo e devolvê-lo com um rosto tão leve que o aceiteremos de volta, e não importa se demoraremos a outra metade da vida tentando juntar pedaço por pedaço para enfiá-lo no peito novamente, o entregaremos de novo mais cedo ou mais tarde, inocentes, o pegaremos nas mãos e deixaremos alguém o levar. Só muito tempo depois é que compreendemos o amor, só depois que o peito tiver sido aberto muitas vezes, de termos escritos muitas cartas, de termos encontrado muita gente, depois que do coração só restar uma ferida, aí estaremos prontos. Pois o amor virá depois que se anular a felicidade que julgamos. Deixamos o amor chegar quando estivermos em milhões de pedaços, para cuidar, para curar, para nos ajudar a construir.

Cáh Morandi

7 comentários:

  1. As vezes dóóói deixar o amor chegar...

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  2. Não vou dizer que chorei pq aprendi que chorar não é coisa de Homem.

    Mais me tocou fundo...

    S A U D A D E S

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  3. O texto da Cáh Morandi sempre muito lindo!
    Mas concordo com ela em partes, nao no todo...

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  4. nossa, cada dia mais letras e palavras em teu reino! e livros e livros!
    e esta reflexão tão experiente para uma pessoa tão jovem, como a Carolina. Donde ela tira esta sapiencia? Sim, com o tempo descobrimos que o amor ilumina e dilacera, depois esquecemos o lado B e repetimos de novo, e de novo... ainda bem! Pior coisa é fechar-se em si e não deixar mais entrar a primavera.
    Saudades de ti, darling.
    Manda este trecho pra mim?
    Beijos friorentos e convalescentes desde el sul
    Claudia F.

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  5. Jenifer querida!

    Que maravilhoso esse texto de Cáh...é para se ler e reler...muitas vezes!!!

    Um grande beijo e bom final de semana!!

    Reggina Moon

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  6. Esse texto me tocou imensamente,querida!
    É o amor nos parte ao meio,nos atormenta,perturba o sono todos as noites em claro...apesar dos momentos ruins,as partes boas sempre prevalencem.
    As vezes parecemos(um tipo de flor que não recordo o nome)que precisa de um tempo fechada e depois se abre novamente.
    Lindo texto!
    Beijos e abraços, mari.

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  7. Obrigada pelo texto e pela trilha sonora que veio junto pelo titulo.

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