sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ninguém amando, pensa em pesos e medidas. Abrimos o corpo e alma, estamos entregues. No começo talvez haja períodos de vago susto: o outro nos define, o outro nos entende, o outro nos aquece e ilumina, somos melhores, mais belos e muito mais felizes por causa dele, sua voz fala por nós, sua mão age por nós, nunca perdemos com tamanha alegria nossa identidade para a recuperarmos no mesmo instante, transfigurada.

O outro, mesmo à distância, comanda nossa vida. Provavelmente comandamos a dele, e essa troca, sendo verdadeira, é um terremoto que transforma terra plana em montanhas magníficas, lagos calmos em grandes mares, faróis humildes em estrelas.

A importância do outro nos assustaria se pudéssemos ver com clareza, mas nossa lucidez está coberta de véus: mesmo assim, interrogamos: quanto de mim restou, quanto de ti sou eu?

A resposta há de ser que somos o outro quase inteiramente, e soa doce aos nossos ouvidos. Naturalmente, se alguém nos ponderasse que é preciso cautela, haveríamos de virar-lhe as costas e rir. E essa é uma das mais privilegiadas condições de ser - apenas e inteiramente - humano.

Lya Luft, in: Secreta Mirada. Ed. Mandarim

3 comentários:

  1. "O outro, mesmo à distância, comanda nossa vida..."

    E as vezes ele nem mesmo imagina isso...!

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  2. Só se ama inteiro, não se ama pela metade.
    Amor só se conjuga na entrega, sem medos, convenções, conselhos de prudencia.
    Amor é suicidio pra depois renascimento.
    Se não for assim não vale a pena.

    Bjos

    Erikah

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  3. Eu venho aqui quando o coração começa a bater apressado. Ahh, vc sabe como é. Não carece de mais explicações. :)

    Um beijo.

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