sexta-feira, 28 de maio de 2010

Estamira
Ah, minha cidade suja
de muita dor em voz baixa

de vergonhas que a família abafa
em suas gavetas mais fundas
de vestidos desbotados
de camisas mal cerzidas
de tanta gente humilhada
comendo pouco

mas ainda assim bordando flores
suas toalhas de mesa
suas toalhas de centro

de mesa com jarros
- na tarde
durante a tarde
durante a vida -
cheio de flores
de papel crepom
já empoeiradas

minha cidade doída.

Ferreira Gullar, in: Fragmento de Poema Sujo / Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século. Org. Italo Moriconi. Ed. Objetiva

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