quinta-feira, 18 de março de 2010

[...] Nunca perdi a pressa. Calma aparente, não de todo. Dentro, bem Quintana: 'Em mim, na minha alma, pressinto que vou ter um terremoto'. Mas encontro as docilidades de Deus nas coisas mais banais e tudo serena. Por tanto ansiar, temo. Não é resistência, é bicho ferido. Puro instinto. Se tu me tocar poderá ler em minha pele toda minha história, assim como se lê entre as estrelas os caminhos.
Aceito, se me der a mão e caminhar vacilante comigo sobre as linhas de nossas vidas.

Equilibrista. Lá em baixo, a teia do destino que o nosso cuidado trançar. Porque destino se faz assim: abre bem a palma da mão, inspira-se no que deseja, e desenha com pirógrafo. Se cair? Aproveita o voo. Ícaro. Se derreter? Melhor. Coloco um brinco de pavão na orelha esquerda. Sabedoria Indígena. Perto do perigo, aves se eriçam.
Sei que o outro é sempre um outro. Já me olhei nos olhos até saber quem sou. Não espero completude, só cumplicidade. Aprendi a não esperar, mais. Nem desesperar, tanto.

Entenda, a vida tem me embalado de um jeito tão único que só encontrei meus passos com total entrega. Quando desando, sei bem o que quero... mas não sei se posso. Não quero licença para ser feliz. Não mais. Se preciso for, quero mostrar os dentes pelos meus direitos. E ter a ousadia de erguer a mão direita até a sua nuca. Perdi minha natureza selvagem em algum lugar, já encontro. Por isso as ausências. Mas minhas fomes sempre ditaram o meu ritmo e nenhuma palavra me brota dos dedos se não salivar na boca. [...]

Cecília Braga

4 comentários:

  1. "Não espero completude, só cumplicidade. Aprendi a não esperar, mais. Nem desesperar, tanto." Que maravilha!

    Beijos*

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  2. ''Mas encontro as docilidades de Deus nas coisas mais banais''
    Me identifico com esse trecho. Que fala do essencial com simplicidade...podemos encontrar alegria no acaso, numa criança sem embaraço mas resolvemos complicar tudo pra achar o EL Dorado da felicidade.

    ps: seguindo o blog, parabéns.

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  3. Seguindo o blog. Gostei muito das imagens e de cada texto. Parabéns.
    Me identifiquei no trecho que fala das docilidades encontradas nas coisas mais banais, sempre encontro alegria no acaso, num pôr-do-sol ou sorriso de criança sem embaraço.

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