sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

LXXVI

Diego Rivera
DIEGO RIVERA com a paciência do osso
buscava a esmeralda do bosque na pintura
ou o vermelhão, a flor súbita do sangue,
recolhia a luz do mundo em teu retrato.

Pintava o imperioso talhe de teu nariz,
a centelha de tuas pupilas desbocadas,
tuas unhas que alimentam a inveja da lua,
e em tua pele estival, tua boca de melancia.

Te pôs duas cabeças de vulcão acesas
por fogo, por amor, por estirpe araucana,
e sobre os dois rostos dourados da greda

te cobriu com o casco de um incêndio bravio
e ali secretamente ficaram enredados meus olhos
em tua torre total: tua cabeleira.

Pablo Neruda, in: Cem Sonetos de Amor. Tradução de Carlos Nejar. Ed. L&PM

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