O gesto do abraço amoroso parece realizar por um momento, para o sujeito, o sonho de união total com o ser amado.
Adorável
Não conseguindo nomear a especialidade do seu desejo pelo ser amado, o sujeito apaixonado chega a essa palavra um pouco tola: adorável.
Afirmação
AngústiaO sujeito apaixonado, do sabor de uma ou outra contingência, se
deixar levar pelo medo de um perigo, de uma mágoa, de um abandono, de uma reviravolta - sentimento que ele exprime sob o nome de angústia.
Ausência
Todo episódio de linguagem que põe em cena a ausência do objeto amado - quaisquer que sejam a causa e a duração - e tende a transformar essa ausência em prova de abandono.
Chorar
Propensão particular do sujeito apaixonado a chorar: modos de aparição e função das lágrimas do sujeito.
Compreender
Ao perceber repentinamente o episódio amoroso como um nó de razões inexplicáveis e de soluções bloqueadas, o sujeito exclama: "Quero compreender (o que me acontece)!"
Coração
Essa palavra vale por todas as espécies de movimentos e desejos, mas o que é constante, é que o coração se constitui um objeto de dom - seja ignorado, seja rejeitado.
Corpo
Todo pensamento, toda emoção, todo interesse suscitado no sujeito apaixonado pelo corpo amado.
Dedicatória
Episódio de linguagem que acompanha todo presente amoroso, real ou projetado, e, ainda, mais geralmente, todo gesto, afetivo ou interior, pelo qual o sujeito dedica alguma coisa ao ser amado.
Sensibilidade especial do sujeito apaixonado, que o torna vulnerável, à mercê das mais leves feridas.
Desrealidade
Sentimento de ausência, fuga da realidade experimentada pelo sujeito apaixonado, diante do mundo.
Errância
Apesar de que todo amor é vivido como único e que o sujeito rejeite a ideia de repeti-lo mais tarde em outro lugar, às vezes ele surpreende em si mesmo uma espécie de difusão do desejo amoroso; ele compreende então que está destinado a errar até a morte, de amor em amor.
Esconder
Figura deliberativa: o sujeito apaixonado se pergunta, não se deve declarar ao ser amado que o ama (não é uma figura de confissão), mas até que ponto deve esconder dele suas "perturbações" (as turbulências) da sua paixão: seus desejos, suas aflições, enfim, seus excessos (na linguagem raciniana: seu furor).
Escrever
Enganos profundos, debates e impasses que provocam o desejo de "exprimir" o sentimento amoroso numa criação (notadamente de escritura).
Tumulto de angústia suscitado pela espera do ser amado, no decorrer de mínimos atrasos (encontros, telefonemas, cartas, voltas).
Eu-te-amo
A figura não se refere à declaração de amor, à confissão, mas ao repetido proferimento do grito do amor.
FestaO sujeito apaixonado vive cada encontro com o ser amado como
uma festa.Louco
Magia
Consultas mágicas, pequenos ritos secretos e ações de graça não estão ausentes da vida do sujeito apaixonado, qualquer que seja sua cultura.
Ternura
Gozo, mas também avaliação inquietante dos gestos ternos do objeto amado, na medida em que o sujeito compreende que esse privilégio não é para ele.
Sonho de total união com o ser amado.
Roland Barthes, in: Fragmentos de Um Discurso Amoroso. Ed. Francisco Alves. Ilustrações de Alone Gut
Bem bolado
ResponderExcluirAdorei!!!!!!!
Que post mais lindo, meu anjo, é todo você.
ResponderExcluirbom, muito bom!
ResponderExcluire obrigado pela visita e comentário na minha gambiarra!
Eu amo, amo esse livro. E esse post tá muito lindo.
ResponderExcluirBrigada!
Uma obra de arte - já tinha visto.
ResponderExcluirGenial.Parabéns pela iniciativa!
ResponderExcluirLindo blog. Muitas afinidades. Muito obrigada! Parabéns!!
ResponderExcluirÊtaaa uma hora que valeu a penaaa hein?! adorei!
ResponderExcluirSim. E quando?
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