terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A rotina do tempo

Juliana Moraes
A vida é uma máquina de triturar rancores e angústias, as alegrias são retiradas a fórceps. Você se diz cansado da repetição dos ponteiros do relógio, a verdade é que os meus dias também são longos e eu me arrasto. Carrego uma mochila de pedras nas costas, porque assim evito a tentação de apalpar a tristeza com as mãos.

Mas, diferentemente da maioria das pessoas, os dias sempre siameses não me incomodam. Nem me importa a previsibilidade dos matemáticos, porque apesar de toda lógica, eles não podem evitar a perfeição da medida áurea que esgana o tempo. Também diferente de alguns, jamais deixei de ler um livro porque conhecia o seu final, ninguém consegue retratar as minúcias e são exatamente elas que me atraem.

Quando me olhas e achas que tenho orgulho, não se engane. Minha cabeça erguida não é pretensão, é medo, é refúgio, é fuga dos vôos rasantes dos dragões que se desprendem de mim, dos trilhos e das máquinas que atravessam o meu corpo.

O amor são dedos vasculhando na ferida e dói. Às vezes, minha dor são pássaros negros, de olhos furados e canto triste. Eles são insanos e cavalgam sem piedade no meu corpo.

Sossegue querido, cada centímetro da minha pele conhece o seu desespero. Relaxe, hoje é terça, venha e povoe mundos dentro de mim, enquanto as crianças colhem pipas e ilusões na ventania.

Marcia Barbieri

3 comentários:

  1. Muito obrigada pela oportunidade,é uma honra estar no seu blog. Te linkari e feliz 2009.

    beijos ternos

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  2. Feliz por encontrar comigo em emio a tanta gente mais que ótima. Beijo agradecido, feliz 2009!

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  3. Oh, que incrível. Queria saber escrever assim.

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