terça-feira, 4 de novembro de 2008

PEITO-PARELHA 1. Valsa nítida.

Serenade for the Doll
lembra, meu bem?
quando eu desviava de tua sombra
e corria pelos vales,
e perdia-me nos bares,
pra depois dormir entalada no teu rastro?

lembra?
dos bondes que atrasei,
escapando de teu silvo
e esbarrando nas presenças
infiltradas de teus vãos?

lembra quando eu não sabia
que tu te escondias
entre meus cabelos, pêlos,
em minha espinha,
e lançava-me aos mares,
e por eles regressava,
tentando inutilmente escapar-te?

e de quando enfim descobri
que era outra face tua,
o encontro,
e arfei no teu regaço,
sorri no teu afago
e te amei serenamente,
lembra?

hoje sei serdes
minha única e inviolável
companhia,
e, em meu peito guarnecido,
é inocente gracejo,
essa certeza.

por isso, solidão, meu bem
não te preocupes,
que de ti não fujo mais.

afrouxa, então, os braços
e dá-me as mãos somente
pra que possamos juntas
confundirmo-nos no seio
de outros pares como este.

Raiça Bomfim

Nenhum comentário:

Postar um comentário