sábado, 25 de outubro de 2008

Confessional

Eu fui um menino por trás de uma vidraça – um menino de aquário.
Via o mundo passar como numa tela cinematográfica, mas que repetia sempre as mesmas cenas, as mesmas personagens.
Tudo tão chato que o desenrolar da rua acabava me parecendo apenas em preto e branco, como nos filmes daquele tempo.
O colorido todo se refugiava, então, nas ilustrações dos meus livros de histórias, com seus reis hieráticos e belos como os das cartas de jogar.
E suas filhas nas torres altas – inacessíveis princesas. Com seus cavalos – uns verdadeiros príncipes na elegância e na riqueza dos jaezes.
Seus bravos pagens (eu queria ser um deles...)
Porém, sobrevivi...
E aqui, do lado de fora, neste mundo em que vivo, como tudo é diferente! Tudo, ó menino do aquário, é muito diferente do teu sonho...
(Só os cavalos conservam a natural nobreza.)

Mario Quintana, in: Antologia Poética. Ed. Ediouro

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