segunda-feira, 13 de outubro de 2008

II

... às vezes o teu amor
É como o mel que embriaga
Mas às vezes como açoite,
Me corta o corpo em pedaços

E então me olhas com raiva,
Me humilhas, me maltratas
E tua língua tem o frio
Fino corte das navalhas.

Tuas palavras são farpas,
Punhal que fere e que mata.
Me desprezas como coisa
Que se usa e se despreza,
Como uma negra fugida
Que o feitor persegue e caça.

Triste amor que me separa
De minha terra e de tudo,
Amor que engole os minutos
Como cobra engole o rabo,
Amor que aponta o caminho
Mas não dá o itinerário,
Amor que arma suas velas
Mas depois afunda o barco,

Amor que arde em meu corpo
Como círio nos altares,
Como lâmpada na parede,
Lanternas que o vento apaga.

Myriam Fraga, in: Sete Poemas

Nenhum comentário:

Postar um comentário