segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Respirar

Deslocando o ar do meu próprio corpo
Levanto a criança que fui,
Desço até o fundo do mar,
Descubro peixes vermelhos.
Subi ao céu de avião,
Nas varandas do oceano
Inventei o meu amor.

Trazendo o ar para mim
Aspirei todo o prazer,
Em faixas de sons e formas
Dei toda a vida ao meu ser.

Somente com um sopro
Posso criar a desgraça,
Trazer para os meus pulmões
A semente do veneno,
E quando a morte chegar

Encontrará um homem
Que respira poesia.

Murilo Mendes, in: As Metamorfoses. Ed. Record

Nenhum comentário:

Postar um comentário