quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O vestido

No armário do meu quarto escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto. É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas. Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante. Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido. É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada: eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão. De tempo e traça meu vestido me guarda.

Adélia Prado, in: Poesia Reunida. Ed. Siciliano

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