sexta-feira, 28 de março de 2014

veja

L'avventura
no calor do brasil você sustentou uma farsa
& me telefonou às 4 da manhã não para ouvir a minha voz
ou me questionar os porquês da frieza que me encontrou
perdido nas florestas nos bosques nos fios de alta tensão
então fingi dormir mais uma vez com o livro do lado
que eu também fingi ler por culpa do pensamento
grudado em você numa noite de sábado aqui em casa
a garrafa de vinho que esperou duas taças brindarem
três taças como numa visita repentina
numa visita de três reis magos predispostos a insinuar
malvadezas sobre qualquer espécie de delírio
entre alguém como eu & alguém como você
que não existe sequer nas páginas amarelas da revista veja
ou quando eu por motivos bizarros & inconsequentes
saí correndo atravessando o jardim de plantinhas simples
que você nunca deu importância
ou quando eu afirmei categoricamente que o poema gods
da anne sexton é o meu cartão de visita na estratosfera
o mundo girando cada vez mais rápido
mais solene mais parecido com aquele tom de voz
que foi a minha estrutura de autossabotagem
& repeti numa outra conversa ao pé do ouvido
que eu estava totalmente desequilibrado emocionalmente
& você não viu.

Antônio LaCarne

quarta-feira, 26 de março de 2014

Noite

Esconder (esquecer)
a face

soterrar (ocultar)
a luz

escurecer o
amor
dormir.

Aguardar o que nasce.

Orides Fontela, in: Teia. Ed. Geração Editorial

terça-feira, 25 de março de 2014

Nunc

by Isobel
Meio-dia cristal
ácido

meio-dia amor
sem sombra.

Orides Fontela, in: Teia. Ed. Geração Editorial

quarta-feira, 12 de março de 2014

Quarto de costura

Minha mãe me ensinou a costurar
meu pai me ensinou a escrever,
escrevo as costuras dela
e costuro as palavras dele.
Costuro na máquina de escrever
escrevo na máquina de costura
cada babado e vírgula,
cada bainha e dois pontos
franzidos ou nervurados.
Minha caixa de linhas é colorida
minha memória é de ponto de sombra,
atrás, cheio de histórias.
Escrevendo costuro cada ponto e desaponto,
costurando escrevo minha roupa
e minha lembrança,
vivendo me lembro das palavras do meu pai
e das mãos da minha mãe.
Sendo sou matiz bordado
no entremeio dos meus pais.

Wania Amarante, in: Quarto de Costura. Ed. Miguilim