sábado, 22 de fevereiro de 2014

eu durmo comigo

Hope Gangloff
eu durmo comigo/ deitada de bruços eu durmo comigo/ virada pra direita eu durmo comigo/ eu durmo comigo abraçada comigo/ não há noite tão longa em que não durma comigo/ como um trovador agarrado ao alaúde eu durmo comigo/ eu durmo comigo debaixo da noite estrelada/ eu durmo comigo enquanto os outros fazem aniversário/ eu durmo comigo às vezes de óculos/ e mesmo no escuro sei que estou dormindo comigo/ e quem quiser dormir comigo vai ter que dormir ao lado.

Angélica Freitas, in: Um útero é do tamanho de um punho. Ed. Cosac Naify

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Caçada

Helena Almeida

E o que é o amor
senão a pressa
da presa
em prender-se?

A pressa
da presa
em
perder-se.

Ana Martins Marques, in: Da arte das armadilhas. Ed. Companhia das Letras

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

fevereiro

Arianna Vairo
Quando desisto é que surges
Quando ruges é que caio.
Quando desmaio é que corres
Quando te moves me acho
Quando calo me curas
E se te misturo me perco
(assobia!)

4.2.69

Ana Cristina Cesar, in: Inéditos e Dispersos / Poética. Ed. Companhia das Letras

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Noturnos

Zdzisław Beksiński
I

Ultrapassar a
face: negro
amor
consteladamente
vivo.

II

Acolher o
vazio. Dissolver-se.
Refugiar-se no abismo.

III

E anulado
o espelho: eis
o infinito.

Orides Fontela, in: Teia. Ed. Geração Editorial

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

dois :

ilustrações de Adara Sánchez Anguiano
[paralelos]

tu e eu
lado a lado
sem nos tocar

(in)consciente

sou dois
um que não sei
outro que sei só um pouco

Líria Porto

sábado, 15 de fevereiro de 2014

3 poemas de Líria Porto _

tem amigo demais, não é amigo de ninguém


Paris 1946 - Marcel Bovis
[torrão]

caminha caminha caminha
alcança o destino mas fica onde estava

um rio não larga as origens
embora se perca nas águas salgadas

a sede não cede


Hugues Erre
[resquícios]

sexta fera
sábado trôpego
domingo deprê

Líria Porto

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Fala

Hugues Erre
Falo de agrestes
pássaros de sóis
que não se apagam
de inamovíveis
pedras

de sangue
vivo de estrelas
que não cessam.

Falo do que impede
o sono.

Orides Fontela, in: Teia. Ed. Geração Editorial

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Mão única

Sara Johanna Vilbergsdottir

– é proibido
voltar atrás
e chorar.

Orides Fontela, in: Teia. Ed. Geração Editorial