domingo, 21 de abril de 2013

para Alexandre, com todo carinho.

Foto: blog Infinitas Cortinas

PARA COMPOR QUINTAIS

 Observa atento
a passagem dos dias

Deveria ser assim o meu canto de amor?
Um passavento nas folhas?

Ontem mesmo avistei um fruto
e lembrei da árvore imensa
de onde desciam coloridas sedas
e formavam redes, tuas pontes.

E lá embaixo, zanzando
com os fones de ouvido,
eu estive lembrando
de algumas palavras
feitas de água e doçura
e do delicado pássaro
que hoje é só mais um andrajo
entre as coisas.

Tu que me ensinaste o mundo,
observaria atento, se soubesses o quanto
vivo e pertencido, embora sem jeito
meu amor é fruto
que se abre
 em silêncio.

Alexandre Coutinho

CONTA-GOTAS

Arquivo do blog Infinitas Cortinas, por Patricia Simplicio.
I
Sobre o granito
E debaixo dágua, o céu
Empoçado no pavilhão
Da escola de música
Chove numa nota de oboé.

II
As bibliotecas são sempre
Espaços cobertos
Pelo tédio
Imaginando
Fruições no silêncio.

Alexandre Coutinho

"Nothing but silence around me."

Yann Tiersen - Monochrome

monocromático - o dia padece
de mecanografias
não por acaso: – nostalgia
obcecante trilha
impermutável ciclo noite/dia
noite/dia
noite
perturbadora face obscura
. . . . . . . . . . . . . entre tantas

Nydia Bonetti

sexta-feira, 19 de abril de 2013

um salve ao poeta Bandeira!


O poeta do castelo (1959)

Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Duração: 11 minutos

quarta-feira, 17 de abril de 2013

[Efeitos de notação de leitura]

A Liberdade é Azul
PASSO AGORA A FAZER DE VEZ o que sempre fiz: construir meticulosamente os silêncios, cada um com gramatura, espessura, cheiro, líquen e arame próprios; cada um com sua chuva, sua curvatura, sua nódoa, sua opacidade, sua especularidade, sua ranhura e modo de dar notícias do copo de inferno que nos entranha.

Passo agora a ser o que sempre fui, corpo percorrendo o lento e próprio desaparecimento, sem fingir que esses meus silêncios forjados não portam rastros do osso duro fóssil semovente movendo os restos do sol.

Wesley Peres, in: As Pequenas Mortes. Ed. Rocco

terça-feira, 16 de abril de 2013

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Vânia Medeiros
Dentro de mim mora um peixe
de olhos e escamas azuis: - navega
contra a corrente
no mar vermelho das minhas veias
e segue em busca de luz.
Desconhece as nascentes, pois
se formou no limbo: - meu coração.
Quero chorar — Não posso.
Não quero. Não deixarei que parta
junto à primeira lágrima.
— Bicho de mim: - eu cuido.

Nydia Bonetti

sábado, 13 de abril de 2013

Matinal

Laura B. Fernández
Nesta manhã de sábado e de sol
em que o real das coisas se revela
na forma nada transcendente
de uma paisagem na janela

num momento captado em pleno vôo
pela discreta plenitude
de não ser mais que um par de olhos
parado no meio do mundo

tantas coisas se fazem conceber
fora do tempo e do espaço
até que o instante se dissolva
enfim em mil e um pedaços

feito esses furos de pregos
numa parede vazia
a insinuar uma constelação
isenta de qualquer mitologia.

Paulo Henriques Britto, in: Tarde. Ed. Companhia das Letras

quarta-feira, 10 de abril de 2013

INQUEBRÁVEL

Helena Almeida

O amor é um tiro no espelho,
intangível ao corpo estilhaçado.

Harmônico silêncio de ruínas,
tão puro de beijar e se ferir
de inocência.

Raul Macedo, in: Disjecta Membra / Toda Poesia. Org. Nina Rizzi.

terça-feira, 9 de abril de 2013

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Claudio Naboni

queria ser vento
queria ser água, sol
e flor

tudo que fosse
o que não sou

Nydia Bonetti

segunda-feira, 8 de abril de 2013

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Isabel de Sá
sonharíamos recomeços embora fosse tempo
de caminhar sozinhos rumo ao fatídico não
lugar

tragédia anunciada: todo começo tem seu fim
propósito

desfecho

extremidades

que nunca se tocam / ou sim
se os caminhos forem círculos – quem sabe?

intento / razão / ou aniquilamento
danada palavra que quando:ocaso:tinge o céu
de vermelho

Nydia Bonetti

domingo, 7 de abril de 2013

abissal

Jerry Uelsmann

entre o vazio e o nada
havia sua morada
buraco desse tamanho

numa noite mui largada
chorou um mundão de lágrimas
as águas do oceano

Líria Porto