quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Um Homem que Dorme
[...] Você vai começar o novo romance Se um Viajante numa Noite de Inverno de Italo Calvino. Pare. Concentre-se. Afaste qualquer outro pensamento. Deixe que o mundo que o cerca se esfume no vago. A porta, será melhor fechá-la; do outro lado, a televisão está sempre ligada. Diga imediatamente, aos outros: "Não, eu não quero ver televisão!" Fale mais alto se eles não o ouvirem: "Estou lendo! Não quero ser perturbado!" Com toda essa barulhada, pode ser que não o tenham escutado: fale mais alto, grite: "Estou começando o novo romance de Italo Calvino!" Ou, se preferir, não diga nada; esperemos que eles o deixem em paz.

Italo Calvino, 1979

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Senhas

Katia Chausheva
Não há último amor.
Há noites que se apaziguam.
Bosques a galope.
Labirintos que se enraízam.
Anjos que zelam hortos.
Moças que escrevem abismadas cartas
e, escarlates, enlouquecem.
Jogam-se - cerradas -
em qualquer movediço porto.

Marize Castro, in: Esperado Ouro. Ed. Una

Descalça

Katia Chausheva

Estou descalça e tenho sono.
Os pássaros daqui não me acordam.
Sou acordada por aves de outras castas.

Outras esferas.

Marize Castro, in: Esperado Ouro. Ed. Una

sábado, 25 de agosto de 2012

Sobre escrever

Às vezes tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que, ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconsciente, eu antes não sabia que sabia.

Clarice Lispector, in: A Descoberta do Mundo / Crônica de 20/12/1969. Ed. Rocco

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Nomes

Rebecca Rebouché
O dicionário dos meninos registrasse talvez
àquele tempo
nem do que doze nomes.
Posso agora nomear nem do que oito: água,
pedras, chão, árvore, passarinhos, rã, sol,
borboletas...
Não me lembro de outros.
Acho que mosca fazia parte.
Acho que lata também.
(Lata não era substantivo de raiz moda água
sol ou pedras, mas soava para nós como se
fosse raiz.)
Pelo menos a gente usava lata como se usássemos
árvore ou borboletas.
Me esquecia da lesma e seus risquinhos de
esperma nas tardes do quintal.
A gente já sabia que esperma era a própria
ressurreição da carne.
Os rios eram verbais porque escreviam torto
como se fossem as curvas de uma cobra.
Lesmas e lacrais também eram substantivos
verbais

Porque se botavam em movimento.
Sei bem que esses nomes fertilizaram a minha
linguagem.
Eles deram a volta pelos primórdios e serão
para sempre o início dos cantos do homem.

Manoel de Barros, in: Memórias Inventadas / As Infâncias de Manoel de Barros. Ed. Planeta

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O quanto a vida é líquida

Antonio Merini
Atenção: ouvi às quatro da matina, através da Central Brasileira de Notícias (CBN), que, em Rondônia e no Acre, quinhentas mil meninas de doze a catorze anos são vendidas como prostitutas aos garimpeiros. Se forem virgens, valem vinte milhões de cruzeiros reais. O preço das não-virgens não foi dito. Se adoecem, são sem seguidas assassinadas. Fiquei em estado catatônico. Ainda estou. Pausa longa. Segundo os astrólogos, no meu mapa astral há a chamada "trindade da alma", e isso quer dizer que eu recebo no peito, como um soco, as múltiplas dores do mundo. E por isso, de dor e de compaixão, posso em seguidinha morrer. E para morrer "esquecendo", resolvi beber além do que já bebo, e como vou ficar bebendo algum tempo (porque o teor da notícia lá de cima é insuportável e sinistro), esta crônica e mais algumas serão dedicadas às minhas "Alcoólicas", e vocês terão a chance de ler alguns dos mais belos poemas da língua. Boa noite. Aí vão os primeiros três:


I

a Jamil Snege

É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A vida é líquida.

II

Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d’água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.

III

Alturas, tiras, subo-as, recorto-as
E pairamos as duas, eu e a Vida
No carmim da borrasca. Embriagadas
Mergulhamos nítidas num borraçal que coaxa.
Que estilosa galhofa. Que desempenados
Serafins. Nós duas nos vapores
Lobotômicas líricas, e a gaivagem
se transforma em galarim, e é translúcida
A lama e é extremoso o Nada.
Descasco o dementado cotidiano
E seu rito pastoso de parábolas.
Pacientes, canonisas, muito bem-educadas
Aguardamos o tépido poente, o copo, a casa.

Ah, o todo se dignifica quando a vida é líquida.

(segunda-feira, 21 de junho de 1993)

Hilda Hilst, in: Cascos & Carícias & Outras Crônicas. Ed. Globo

domingo, 19 de agosto de 2012

Beata Oswiecinska
O múltiplo sentido das permutações
do tempo que o poema permite
assombra. Uma sequência de imagens
simples, e finalmente convencionais,
a rápida sucessão das unidades dinâmicas do verbo,
combina as três perspectivas

que os filósofos dizem do eterno, do instante, e
do perene. A terra mesma se transforma,
a sombra das nuvens ao voar sobre as casas
dá repouso e abrigo à obra das nossas mãos.
Passam os anos como dias, o dia de agora
é inteiro e completo como outrora.

Lendo, já sei, talvez nada aconteça:
vento nas folhas, água, uma estrela que cai.
Comendo a sopa quente diante da tv
a ordem da história e da sociedade não está
prevista no menu. Ainda assim são essas imagens voláteis
a razão do poema, enquanto dura o sol.

António Franco Alexandre, in: Quartas Moradas

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

tutorial

Jean-Marc Caracci
não é um espelho o mundo, nem
moído, serol
colado na meada
dos dias que se desenrolam com a goma
do espanto, isso
que arranha sua pele, arranca a pátina
dos gestos, fatia
o real em lâminas, películas
projetadas sobre um fundo áspero, árido,
turvo, e você
descreve lentamente ao longo de uma órbita
marginal palavras que não limpam
a barra do mundo, ele não é
um espelho, nem
moído, sua farofa
seca servida na ração
diária, não é mesmo qualquer coisa em que você
se reconheça, meu chapa, por isso
escreva num livro
o inventário de técnicas
para quebrar os espelhos, agredir
os espelhos violentamente, mesmo cortando
os punhos, os pulsos, erradicar
os artefatos
da ilusão.

Nuno Rau

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Para después

Marta Orlowska
ALGUNA VEZ RECORDARÁN LOS CUERPOS
la belleza eclipsada:
atardeceres, patios en penumbra,
las luces de neón en la ciudad.
O el color de unos ojos
inevitables
como una guerra perdida,
como un enigma.
Acaso entonces se pueda soñar
otra imagen que el tiempo no conozca,
ni destruya su paso.

Antonio Jiménez Millán, de Granada, 1954, in: Poesía Viva de Andalucía. Org. Raúl Bañuelos, José Brú, Dante Medina e Ramsés Figueroa. Ed. CUSCH-UDEG

ANUNCIO DEL INVIERNO

Giselle Azevedo


dos hojas en otoño
cayendo lentamente

Luis Gámez, de Córdoba, 1981, in: Poesía Viva de Andalucía. Org. Raúl Bañuelos, José Brú, Dante Medina e Ramsés Figueroa. Ed. CUSCH-UDEG

domingo, 12 de agosto de 2012

Florações

Katia Chausheva
Estou à primavera de sensações indóceis. Florações extremas, e no entanto, mudas, só eloqüentes de silêncio e olhar. Discretamente solitária, aguardo pela ventania inconfidente da alma, a fim de que ela cante minhas proezas, revele minhas histórias, as sonhadas e vividas. Minha quietude é de bosques que trazem a urgência dos verdes, revivendo a cada estação, o definitivo da vida. Cresço inesperadamente nessa temporada, feita de noites arrastadas, consumida no ópio de palavras silenciadas pelo medo de morrer de amor. A estrada desses mornos dias é longa demais, a rotina é uma reta que desejo bifurcar porque sonho com curvas de mulher. Sonham as curvas comedidas em mim. Mesmo calando sussurros, palavras, frases inteiras, orquestro-me, alcanço as estrelas dos meus delírios, agigantada por dores e agonias, por ilusões, sóis temporais, secretamente difundida nas minhas entranhas, nas dimensões multiplicadas de meus eus. Minha natureza sabe que, a despeito de quaisquer rios que eu navegue, desembocarei sempre em versos livres; e assim será até que as flores perfumem alegrias e tragédias.

Roberta Tostes Daniel

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O fracasso da linguagem

Isabel de Sá
"...on this glorious occasion of splendid defeat..."
Anthony Newley

"Eu te amo"
é uma concha vazia
onde ecoam mentiras primevas.

"Eu te amo"
é um possível mantra
de retorno à origem do fogo.

"Eu te amo"
é inversamente proporcional
à tua ânsia de amar.

Lívia Soares

Tão cúmplices, as palavras

Rebecca Rebouché

Às vezes vêm de muito longe:
de fatigadas viagens,
de mortes prematuras,
de excessivas solidões.
Mas vêm.
E trazem a inicial pureza das fontes.
E a lâmina do silêncio.
E a desordem da noite.
E a luz extenuada do olhar.
Tão cúmplices, as palavras.

Graça Pires

Ar

Talita Leal
Música de árvores.
Não a das folhas e ramos.
Mas a outra, para percussão solo.
Madeira, raízes, cascas, nós, galhos.
Tudo que pede machado, corte, pancada.
O que é duro - áspero - bate, e estaca.
O que estala e cresce da terra contra as estrelas.

Armando Freitas Filho, in: Cabeça de homem, 1991. Coleção Poesia Viva

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Paisagem com frutas

Katia Chausheva
Duas pêras sobre a mesa
esperam a tua fome.
O dia é verde
e o vento tem cores provisórias.

Sobre o muro
um pássaro mudo
de olhar escuro
perscruta a tua sombra

Ele sabe
que ninguém sabe
em que azul
ocultas
teu absurdo.

Maria Esther Maciel, in: Triz. Ed. Orobó Edições

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Inverno

Persona
Este Inverno é longo gélido
E confuso
Na varanda só o vento passa
E o vento olha-nos de esguelha quando passa

Nenhum poema aflora
Entre as linhas finas e aéreas
Da página em branco

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Ainda


No silêncio: compasso de solidão.
Depois que a música (me) acaba,
Fazer o sem-lugar onde desvio
Linguagem e desejo.
Fremir de ondas
Entre mim e canção,
Escrever as pausas de outra:
Mais sutil, de sombra.
O que eu não toco: pertença minha
(toda escuta, posse).
Onde não sou e não tenho;
Até que ouço, simplesmente.
Presa por vontade
De escutar o que é livre:
O inalcançável movimento
Do mar -
O chamado:
Palavras instigando ondas.
Ouvir o tempo insondável
No mesmo silêncio de corredores e sótãos.
Menina, lia. Escutava Quintana
Onde todas as canções comandam a nau
Apinhada de meninos mortos.
Terrível-suave.
E virgem. O silêncio virgem.
Ocupá-lo com desejo e memória,
Violentá-lo. Se tento calar,
Bebo o tempo: nau frágil.
Um ponto afogado e luminoso da escada,
Perto do peito: o porão do prédio.
Sou eu, um barco ainda ouvindo em segredo.
Degredada em sombra.
Um buraco de luz; deixada pela canção
E pelas brechas nos tijolos.
Abri a porta para o vazio.
Veio a rebentação. Nem perto o mar.
Os vizinhos não sabem; suas casas quando acendem;
Luzes me arrebentam faróis no peito.
As cortinas me abrem. Não saí do quarto.
Tudo veio à voz, depois da voz, minha voz sibilante.
O corredor ainda grande.
Meu sem-lugar: linha do tempo.
Tento uma ausência. Tudo lembrando.
Imagens correm, três delas, ardendo.
O novo. Arrebenta o novo. Oscilações de novo.
Até mesmo no fogo. Tudo são águas.
É um estar-se preso, realmente
(como no amor).
Quem ouve o silêncio, sem fim,
Devorando quem canta,
Move o sagrado, morre em mim.
Não só leveza. Todo instante é um corte,
Toda delicadeza funda o sal na voz
E um corte sempre fala ao dentro.
Arde o vigoroso.
A carne não é rente;
Requentada no sangue, vem antes
(na alma do que não fomos).
Nos afogamos.
A palavra, aprende:
Vai fracassar.
Como a música, seu fim.
Um tempo de mortes, no sempre.
Mas não enquanto:
O canto.

Roberta Tostes Daniel

domingo, 5 de agosto de 2012

Tá deitadão, bicho?

Hilda Hilst
Os poetas deviam mais é ficar sempre em silêncio. Porque falar a verdade pode lhes custar a cabeça. A vida. Não foi sempre assim? Jeshua falava por parábolas quando não queria ser imediatamente compreendido. E assim aconteceu aquilo: a cruz. A carnificina.

Era uma vez um gigante, lindo, lindo, que adormeceu no meio da floresta. Então chegou um de língua enrolada e sussurou ao gigante: vossa excelência me permite de lhe ir ao fiofó? O gigante nem ouviu. Tava ali, puxando um ronco. De bruços, naturalmente. O de língua enrolada repetiu: me permite? E foi. Há muito tempo que milhões tão passando por ele. O fiofó do gigante tá assim ó (visualizar através de meditação zen uma circunferência descomunal e dentro o símbolo do infinito: aquele oito deitadão).

Jorge de Lima: "O céu jamais me dê a tentação funesta de adormecer ao léu na lomba da floresta".

Também é estranho isso de homens públicos se demitirem de altos cargos por inconfessáveis razões pessoais. Nós, que somos a caterva, tentamos adivinhar: serão hemorróidas?

A VERDADE É
NECESSÁRIA
DIANTE DO
ABSURDO.

Outra coisa (ou a mesma). Não encham mais o saco dos fumantes atordoando-os com isso de que cigarro mata. Tudo mata, negada. Além de você não poder mais fumar foder beber comer, o que mata mesmo é a mentira, o faz-de-conta, a cara-de-pau, "os cavalinhos correndo" e eles cavalões comendo, trocando trocados atrás das portas (ó grandes vendilhões!), o que mata é sem-vergonhice, coligações de aço, grilhões, esses impossíveis de romper, o cara atrás de você, te seguindo os passos, te cobrando adoidado, bufando atrás de você, a mala vazia na mão esperando pra você encher e você desesperado gritando: não tenho um tostão, me poupe, negão! E o cara esfacelando teus artelhos e você sapateando... e tiraços por todos os lados...

Cadê aqueles caras todos, tão escorreitos, humanistas, estadistas, sociólogos, economistas, aqueles limpos doutores que eu amava? Cadê vocês? Deflorados na serra? Ou era Floradas na serra o nome daquele livro de amor? Cadê vocês, hoje presidente e ministros?

Bom Ukulelê! (Ukulelê é um instrumento de música...)

(domingo, 4 de junho de 1995)

Hilda Hilst, in: Cascos & Carícias & Outras Crônicas. Ed. Globo

sábado, 4 de agosto de 2012

Perguntas grandes

Pessoas que são leitoras de meus livros parecem ter receio de que eu, por estar escrevendo em jornal, faça o que se chama de concessões. E muitas disseram: "seja você mesma."

Um dia desses, ao ouvir um "seja você mesma", de repente senti-me entre perplexa e desamparada. É que também de repente me vieram então perguntas terríveis: quem sou eu? como sou? o que ser? quem sou realmente? e eu sou?

Mas eram perguntas maiores que eu.

Clarice Lispector, in: A Descoberta do Mundo / Crônica de 29/03/1969. Ed. Rocco

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

4.

Tara Turner
sobrevivente da calamidade
amor não tem cara nem metade

amor coisa diacho tralha
não divide nem migalha

amor silêncio da loucura
todo dia contigo amanhece

amor inferno que você carrega
e desconhece

Alice Barreira, in: coisa diacho tralha

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Fernando Pessoa me ajudando

Noto uma coisa extremamente desagradável. Estas coisas que ando escrevendo aqui não são, creio, propriamente crônicas, mas agora entendo os nossos melhores cronistas. Porque eles assinam, não conseguem escapar de se revelar. Até certo ponto nós os conhecemos intimamente. E quanto a mim, isto me desagrada. Na literatura de livros permaneço anônima e discreta. Nesta coluna estou de algum modo me dando a conhecer. Perco minha intimidade secreta? Mas que fazer? É que escrevo ao correr da máquina e, quando vejo, revelei certa parte minha. Acho que se escrever sobre o problema da superprodução do café no Brasil terminarei sendo pessoal. Daqui em breve serei popular? Isso me assusta. Vou ver o que posso fazer, se é que posso. O que me consola é a frase de Fernando Pessoa, que li citada: "Falar é o modo mais simples de nos tornarmos desconhecidos."

Clarice Lispector, in: A Descoberta do Mundo / Crônica de 21/09/1968. Ed. Rocco