quinta-feira, 31 de maio de 2012

Predestinada

Egon Schiele
Nua, às três da madrugada,
ainda escavo minas
instaladas em minha alma.

Marize Castro, in: Esperado Ouro. Ed. Una

terça-feira, 29 de maio de 2012

alma

eu: o pronome pessoal do caso reto; a integralidade do emissor que percebe o mundo, expressando-se diretivamente, sem mediações. te: o pronome oblíquo na segunda pessoa; a relatividade do outro, o outro visto transitivamente como receptor do eu inteiro; a entrega. amo: a pessoalidade primeira e a temporalidade presente de uma ação que é mais que ação; é ação em forma de estado e reação; é a imersão da alma no corpo. como dizer isso impunemente?

Noemi Jaffe

segunda-feira, 28 de maio de 2012

amigo



arrumei a cama abri a janela plantei flores azuis amornei
a água perfumei os cabelos há gavetas para a tua dor
cabides para pendurar o medo e se quiseres terás novo
cobertor podes trazer o gato o teclado os velhos
os discos de jazz o amor o cansaçõ estou à tua
espera.

Líria Porto

domingo, 27 de maio de 2012

paixão


pelo que uma pessoa se apaixona? nada de substantivos abstratos, ideias, comportamentos. ninguém se apaixona pela inteligência, a generosidade, o caráter. o que move o pathos, essa febre que junta o corpo e a alma mais do que muitas religiões, é a pálpebra caída, o paletó amassado, dois canudos no lugar de um e o jeito mais aberto de pronunciar uma letra.

Noemi Jaffe

solidão

a solidão pode ser um presente. ela obriga ao silêncio, que é a melhor resposta para grande parte das perguntas. obriga ao espaço mais amplo e mais vazio, onde o corpo respira com mais extensão e mobilidade. ela nos faz ouvir a respiração, ver melhor a pupila azul da gata. ela dá mais peso e espessura ao tempo e quase é possível ouvi-lo passar. ela é cerimoniosa e não convencional como os encontros fortuitos. ela é uma companhia que vai se descobrindo aos poucos, sempre cheia de novidades e seus segredos só se revelam com muito cuidado e graça. ela habita a noite, mas vem me visitar também durante o dia, especialmente às tardes. senta embaixo do armário do corredor e quando eu a avisto, digo: olá, solidão, entre no meu quarto, você quer um café? ela nunca quer, não gosta de incomodar.

Noemi Jaffe

problema

algumas coisas um pouco difíceis estão acontecendo e fico pensando em como lidar com elas. acho que um ponto bom para enfrentar certas complicações é um ponto médio entre a aceitação do problema - ele existe -, e uma certa resistência - é preciso agir. ficar no nó entre essas duas forças, a que permanece e a que briga, sem acatar nem a inércia nem o combate remido. não digo que saiba fazer isso, mas estou tentando e só a tentativa já me acalma. carregar o peso e a leveza no corpo e na alma.

Noemi Jaffe

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A Bruna Lombardi

Sampa, 16 de fevereiro de 1981.

Bruna,

amei seu livro¹. Estive doente, há umas duas semanas (um vírus misterioso, pestes soltas no ar, na água desta cidade infernal), e aproveitei para ler uma porção de coisas guardadas há tempo. Acho corajoso, bonito, forte. Principalmente quando você solta o emocional. Várias vezes, me comovi, li em voz alta para amigos, para mim mesmo. Gostava, e muito, do primeiro, mas acho que você cresceu ainda mais. E na direção certa.

Queria dizer isso a você. Por favor, não se abale com as maldades tipo Léo Gilson². Não deixe que esse tipo de comentário, mesquinho e destrutivo, bloqueie a sua criatividade. Está tudo muito ruim, e nós precisamos mais do que nunca ser solidários uns com os outros. Trocar estímulos. Assim: olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também. Tá me entendendo? Eu sei que sim.

Qualquer coisa, conte comigo. Sem conhecê-la profundamente — mas mais pelo que você escreve e menos pela sua imagem pública — te quero muito bem.
Estou com você e não abro.

Receba um beijo grande.
Seu amigo

Caio Fernando Abreu

¹ Caio refere-se ao livro Caia (Ed. Codecri, 1980).
² Jornalista e escritor Léo Gilson Ribeiro, que escrevia sobre livros e autores em diversos jornais e revistas brasileiras.

Caio Fernando Abreu, in: Cartas. Org. Italo Moriconi. Ed. Aeroplano

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Fio

iNeedChemicalX
ando dentre estas densas árvores
em busca, em
busca de um
nome, de um
número, o de
minha cripta
e estas árvores são pássaros que espanto,
algum evento amado pousou neste destino.

Judith Grossmann, in: Vária Navegação: mostra de poesia. Ed. Fundação Casa de Jorge Amado

quarta-feira, 23 de maio de 2012

História


Um cronópio pequenininho procurava a chave da porta da rua na mesa-de-cabeceira, a mesa-de-cabeceira no quarto de dormir, o quarto de dormir na casa, a casa na rua. Por aqui parava o cronópio, pois para sair à rua precisava da chave da porta.

Julio Cortázar, in: Histórias de Cronópios e de Famas. Tradução de Gloria Rodríguez. Ed. Civilização Brasileira

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Por este ínvio caminhar sem datas

Se o que penso
e o que sinto
fossem o que penso
e o que sinto

não teria assim tão maltratado
o coração.

Ah como o homem
é cheio de inquietação
e tolice.

Antonio Brasileiro, in: Pequenos Assombros

domingo, 20 de maio de 2012

quiasmas tardio

ainda suspiram razões
desprovidas de sentido
e respiram fuligem
na ausência de qualquer
poeira fixa e imutável
que lhes aplaque a fome

são esses quiasmas do nada
bravio
que se entrecruzam
selvagens
num acaso incolor
ao tardio do tempo
que paira fugaz,
verte morto
e esvai gélido
descosendo tramas
miragens e almas.

ainda preferem o tormento
talvez, a lembrança atroz
ao descanso na paz insípida
cama inodora, angustiosa
da inexistência.

Paula Cajaty

sábado, 19 de maio de 2012

Poema descontínuo - I

A mão descobre
volumes incompletos.
No vidro encerrada
a violeta não tem
perfume.
Ai, carne e sentimento
se acreditais
em fútil guarda-chuva
para o vosso medo!

Há uma goteira
sobre minha poltrona.

José Paulo Paes, in: O Aluno, 1947 / Poesia Completa. Ed. Companhia das Letras

Poema descontínuo - II

Teu vestido branco,
bailando na chuva,
era suave pluma
para os meus sentidos.

Mas a lei e o trilho
levaram a dança
e um cigarro triste
me brotou dos dedos.

Agora sem crença,
procuro no ar,
no jardim inútil,
qualquer borboleta
que da chuva esconda
suas asas...

José Paulo Paes, in: O Aluno, 1947 / Poesia Completa. Ed. Companhia das Letras
A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação - porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.

João Guimarães Rosa, in: Grande Sertão: veredas. Ed. Nova Fronteira

cor.a.ção

[...] Meu coração é que entende, ajuda minha ideia a requerer e traçar.

João Guimarães Rosa, in: Grande Sertão: veredas. Ed. Nova Fronteira

quinta-feira, 17 de maio de 2012

?

Persépolis
[...]
EU: - O primeiro passo é aprender a ficar sozinha...
EU: - Sim, e quando se aprende isso de verdade, esquece-se como estar aberta para o amor, se ele vier um dia.
EU: - Quem disse que a vida é fácil?
EU: - Ninguém.
EU: - Nesse caso, por que tem tanto medo de ficar sozinha?
EU: - Estamos de volta ao ponto de partida, girando em círculos.
EU: - É um dos problemas de estar sozinha.

Erica Jong, in: Medo de Voar. Ed. Nova Cultural

terça-feira, 15 de maio de 2012

Metades

Delilah Woolf
Porque, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. O quanto uso das partes que brigam dentro de mim. Há muito, eu me confundo. Porque metade não tem medo e levanta os braços, na descida da montanha-russa. Olhos abertos, enquanto outra acha melhor enfrentar a queda com as mãos na barra. Segurando forte. Espremendo os dois olhos, fechados, desde o começo do percurso. Das travas descidas sobre a barriga. Porque metade prefere brincar na beira da praia. No raso. Enquanto outra não vê problemas em pular dezenas de ondas e nadar onde a pequena bandeira vermelha, agitada pelo vento, avisa sobre o risco. Sobre a possibilidade de afogamento. Porque, há muito, eu erro a receita do equilíbrio. Uso a parte que não deveria na hora em que não poderia. Me confundo com as metades que brigam dentro de mim. Porque parte acelera na estrada, no momento da curva fechada. Pé direito até o fim, enquanto outra freia, bruscamente, ao ver a primeira placa. Seta torta, avisando sobre o perigo. Metade não suporta a burrice, a pequenez, a lerdeza. Outra, sempre calada, tolera a banalidade. Engole a ignorância. Convive com a mediocridade. Há muito, eu erro a mão. A dose. Me confundo com o que devo usar. Porque metade briga. Explode. Aponta o dedo na cara, enquanto outra se recolhe, quieta, debaixo da cama. No quarto fechado. No tudo escuro. Eu tenho uma metade que berra. Outra que sussurra. Uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. Eu tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade. Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha. Metade auto-suficiente. Mas, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. Me perco. Há dias em que uso a metade que não poderia. Dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria. Porque elas brigam dentro de mim, as metades. Há algumas mais fortes. Outras ferozes. Há partes quase indomáveis. Metades que me fazem sofrer nessa luta diária. No não deixar que uma mate a outra.

Eduardo Baszczyn

domingo, 13 de maio de 2012

Preparação para a morte

Masao Yamamoto
A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
O tempo, infinito,
O tempo é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
Bendita a morte,
que é o fim de todos os milagres!

Manuel Bandeira

(IV)

Delilah Woolf
● ardem no tempo
as palavras não ditas
os silêncios perdidos

: labaredas e cinzas
consumindo veias
- lavas em remoinho
no mármore dos pulsos

[sou toda lenha
vereda, brasa, núcleo,
incandescente vastidão]

: queimo em sangue
- sangro em carvão ●

Lilly Falcão, in: 'ar.dor'

(VI)

Lilya Cornelli
● aqui estamos sós
nesse imenso e luminoso silêncio
de verdades seladas
onde mentiras convenientes
nos tiram para dançar

avessos ao desespero
seguimos embalados no ritmo
de nuvens algodoeiras
e de pássaros coloridos migrantes
migrantes

[meu nome assina a tua pena
e todas as canções ao redor são teu riso]

somos impermanência
por princípio
e fim

aqui restamos
[feito alvos lírios mortos de sede em plena invernada
- ah, ternura tanta!]
: orvalho e nuvem
nesse luminoso e infinito
silêncio ●

Lilly Falcão, in: 'invernidades'

amar é pouco
:
o outro existe - com e apesar
das nossas precisões

Líria Porto
Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças
O abandono não é um ato de vontade mas uma consequência do esquecimento, meu amor.

Inês Pedrosa, in: Nas Tuas Mãos. Ed. Alfaguara

De deserto e sombras

sippanont samchai
Uma pedra íntima desvia
o meu grito de desgosto
interpretado sob medida
em um coração deveras
largo

e não se ajusta
à calma:

meus cantos todos calados
uma homenagem ao silêncio,
senhor de todo caminho
deserto.

Leila Andrade

MAIO - I

Katia Chausheva
insi/nua-

te,


sombra que não quer se

projetar


em nenhum muro,

(furo),


válvula do meu sangrar


freático. —

um lençol,


vermelho: tingir,

tanger


este primeiro crime de

deus,


o amor.

Marceli Andresa Becker

sexta-feira, 11 de maio de 2012

quase um poema de abril


o cheiro de terra molhada
desata as trancas da memória

a noite entorna-se

Márcia Maia

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Amor

Amor à Flor da Pele
Y después de hacer todo lo que hacen, se levantan, se bañan, se entalcan, se perfuman, se peinan, se visten, y así progresivamente van volviendo a ser lo que no son.

Julio Cortázar, in: Cuentos Completos / 2. Ed. Alfaguara

terça-feira, 8 de maio de 2012

liquetude

Lilya Corneli
Faz frio nos olhos de Lúcia,
feito quando se coloca sal na língua da noite e daí chuvisca grosso como se nada mais houvesse no mundo:

(telha rachada

boca faminta

lençóis subterrâneos

estreito de Gibraltar sem navios que cheguem ou partam cheios e vazios de tudo)

e o céu se põe sedento de qualquer secura verão calor.
e em Lúcia brota a solidão da solidão.

Peixes em aquários redondos,
celas individuais.

Julya Vasconcelos

segunda-feira, 7 de maio de 2012

circunstância

Nonnetta
um amor ainda não realizado produz uma sensação de flutuação, de embalo ligeiro, de nostalgia do que ainda está por vir. rapidamente porém, chega a circunstância, líder máxima das forças militares da realidade, e abate a tiros ou simplesmente com um puxãozinho, o voo bobo do apaixonado. o amor que iria acontecer nem foi e já passou. já passou.

Noemi Jaffe

Nada disfarça o apuro do amor.

9 Canções
Um carro em ré. Memória da água em movimento. Beijo.
Gosto particular da tua boca. Último trem subindo ao
céu.
Aguço o ouvido.
Os aparelhos que só fazem som ocupam o lugar
clandestino da felicidade.
Preciso me atar ao velame com as próprias mãos.
Sirgar.
Daqui ao fundo do horto florestal ouço coisas que
nunca ouvi, pássaros que gemem.

Ana Cristina Cesar

sábado, 5 de maio de 2012

Amor na trincheira

Nan Goldin
alterei a ordem dos mergulhos no abismo
o arquivo de teus abraços
não sobreviveu ao back-up

afundo lentamente em ondas translúcidas

isso porque eu queria ser
o sol emergente
nos teus olhos deitados.

Tânia Alice

sexta-feira, 4 de maio de 2012

esquecimento

Lluvia
o saudável esquecimento da dor parece implicar também, e necessariamente, no esquecimento do prazer. isso faz surgirem algumas perguntas: será que o esquecimento da dor (de toda dor) é mesmo saudável? e será que o prazer também é esquecido porque sua lembrança provoca o medo de mais dores? será que quem consegue esquecer a dor teme também o prazer? uma espécie de termostato da memória parece ligar a dor e o prazer como sensações que guardam certas semelhanças, seja por efeitos físicos, psíquicos e até de origem supersticiosa ou cultural, não sei. sei que, por isso, temo esquecer a dor. temo que, com isso, minha economia mental me proíba de lembrar do prazer.

Noemi Jaffe

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Chave

Marc Chagall
O vento alisa
as dunas
Na carícia
da pele
pela leve brisa
na lua nascente
serena liberdade
aparição estrelada
revolucionária
nossos sopros
juntados
fragmentos de tempo azul
silhuetas se destacam
respiramos juntos

e quem me dera, amor,
que não seja por acaso.

Tânia Alice

Cortes

a árvore genealógica destes cortes
testemunha que o amor
sem um mínimo
de aniquilamento
não existe

Vera Lúcia de Oliveira, in: Tempo de Doer

terça-feira, 1 de maio de 2012

Seven Invisible Men
Andei comendo silêncio
Desde o dia em que nasci.

Ele se tornou um grudento
Novelo feito com teia de aranha
Preso na garganta:

Isso o que você vê
Envolvendo as palavras
Que saem de minha boca
Não são flores negras
Nem a contraluz de astros negativos.

Era pra ser um poema —

E nunca ficará pronto.

Daniel Faria

para uma separação

Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças
não, não precisa se levantar, não. você pode ouvir tudo isso aí mesmo, do sofá. e pode fechar também esse sorriso: eu não estou de volta. está ouvindo? eu dirigi até aqui, passei pelo seu porteiro curioso, subi por esse seu elevador cheirando a mofo para lhe dizer exatamente isso: que eu não estou de volta. que você pode ficar com tudo. com seus livros empilhados. com seus discos mal guardados. com suas plantas quase-mortas, por não serem mais regadas. você pode ficar com tudo. com esse seu vaso de flores amarelas de plástico, empoeiradas pelo que vem da janela entreaberta. pelo que vem com o cinza dessa cidade imunda. fique com tudo. com esse seu apartamento minúsculo. com essa caixa de fósforos do décimo-sexto andar. não quero nada. e só achei que deveria saber que você pode ficar com tudo. com os meus beijos e com os meus apertos, inclusive. com os meus carinhos feitos quando eu, tolo, acreditava que você era o que eu andava precisando. nada. não quero nada e só achei que você deveria saber que esta é a última vez que me viu por esse olho-mágico da porta, antes de me espiar por ele, de costas, indo embora, de uma vez por todas, por aquele corredor com marcas de mãos pretas pelas paredes. só achei que precisava lhe avisar que não quero mais nada. que você precisava saber que esta é a última vez que estou pisando nesse seu carpete desfiado. olhando para todo esse caos, que um dia chegamos a chamar de paraíso. não, não precisa se levantar, não. você pode ouvir tudo isso daí, com essa bunda grudada no sofá. eu só passei mesmo pra dizer que não quero nada de volta. nem aqueles beijos todos. eu poderia fazer com que cuspisse um por um, agora mesmo, de joelhos sobre o tapete. mas eles não vão me fazer falta e eu estou com um pouco de pressa. me desculpe, mas eu só passei por aqui realmente pra avisar: não, eu não estou de volta.

Eduardo Baszczyn

embarcação



carrego coisas pesadas e quase não mais flutuo. há tempos, navego sem encontrar portos pelo caminho. lugares onde se possa parar. descarregar as cargas amontoadas. atirar o que é sobra ao chão do cais. navego enquanto posso, sem conseguir me livrar da bagagem. das pedras dentro das malas. sabendo que a mudança foi com a embarcação e não com o mar. navego, sabendo que afundar é questão de tempo.

Eduardo Baszczyn