Amanda Cass
Nesse fim de ano, Carlos, não vou lhe dedicar desejo algum, porquetudo que te posso desejar é aquilo que me escapa à palavra.
Mas queria lhe dizer coisas à toa, pois de todo modo,
dizer é mais concreto.
Você já reparou, Carlos, que é a mesma noite que guarda os dois anos?
Pois se no meio dessa mesma noite não houver
sinos, fogos de artifício nem ninguém pra me avisar,
talvez eu não perceba que tudo mudou.
Fim de ano, Carlos, é igual a fim de hora, de dia, de mês...
E esse fim é só mais um dos muitos
que esse ano teve. Mas dessa vez, eu estarei de branco,
você de verde e estaremos prontos pra mais
esperança.
E quando o ano estiver por acabar, Carlos, vou achar que ele
passou tão rápido e vou lembrar do tanto que foi vivido...
(Parece até que faz mais ano que te conheci).
E depois, estarei mais velha, como estive ontem e anteontem.
(E esta ruga me surgiu desde abril).
Mas livre de qualquer coisa, meu amigo, lhe peço
que feche os olhos e sinta essa calma que lhe envio.
Eu também fecharei os meus e enquanto meu passo e meu pulso
estiverem marcando o compasso do tempo,
a ternura que me escorrer pelos cílios vai pingar uma estrela
nova em meio as muitas desse céu
sem fim...
Raiça Bomfim