terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A rotina do tempo

Juliana Moraes
A vida é uma máquina de triturar rancores e angústias, as alegrias são retiradas a fórceps. Você se diz cansado da repetição dos ponteiros do relógio, a verdade é que os meus dias também são longos e eu me arrasto. Carrego uma mochila de pedras nas costas, porque assim evito a tentação de apalpar a tristeza com as mãos.

Mas, diferentemente da maioria das pessoas, os dias sempre siameses não me incomodam. Nem me importa a previsibilidade dos matemáticos, porque apesar de toda lógica, eles não podem evitar a perfeição da medida áurea que esgana o tempo. Também diferente de alguns, jamais deixei de ler um livro porque conhecia o seu final, ninguém consegue retratar as minúcias e são exatamente elas que me atraem.

Quando me olhas e achas que tenho orgulho, não se engane. Minha cabeça erguida não é pretensão, é medo, é refúgio, é fuga dos vôos rasantes dos dragões que se desprendem de mim, dos trilhos e das máquinas que atravessam o meu corpo.

O amor são dedos vasculhando na ferida e dói. Às vezes, minha dor são pássaros negros, de olhos furados e canto triste. Eles são insanos e cavalgam sem piedade no meu corpo.

Sossegue querido, cada centímetro da minha pele conhece o seu desespero. Relaxe, hoje é terça, venha e povoe mundos dentro de mim, enquanto as crianças colhem pipas e ilusões na ventania.

Marcia Barbieri

Koan


Entre as coisas que voam

e as coisas que ficam

vôo e fico.

Maria Esther Maciel

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Amor de novo

Alone Gut

lá vamos nós!

prontos pra mergulhar

no velho poço.

Roberta Silva

Reflexos

Gostosa. Despertava adormecidos gigantes por onde passeassem suas curvas de artista de cinema mudo, sua cabeleira de cachos, seu sorriso de te encontro logo mais. Passo firme, ombros retos, peitos empinados e a certeza de quem chegou pra ganhar. Tudo e todos. Uma loteria pra qualquer um que soubesse sussurrar ao pé do ouvido o abre-te sésamo daquela caverna onde todos e qualquer um era espeleólogo. Despreocupada pois que a vida nada mais era do que o descompromisso de amores tantos e tão únicos. Tão efêmeros e tão eternos.

Triste. Despertava de sonhos onde artistas de cinema, mudos gigantes, passeavam pelos cachos de sua cabeleira com sorrisos de nunca mais. Passo trôpego, ombros caídos, peitos sugados e a certeza de quem nunca chegaria. Um prêmio de consolação pra quem chegasse em último lugar naquela caverna onde todos e qualquer um era ninguém. Preocupada pois que a vida nada mais era que o descompromisso de amor nenhum. Tão efêmeros e tão eternos.

E, entre elas, apenas o espelho.

Ro Druhens

Rotina

Apenas acontece.
Acontece que os olhos se fecham no começo do fim de cada madrugada. Acontece que os olhos se abrem no começo do fim de cada manhã. Acontece que os olhos ficam abertos durante as luzes apagadas do dia todo e insistem em assim ficar no escuridão de todas as luzes que a noite traz.

O corpo dói porque envelhece e isto é irreversível. A alma envelhece porque dói e isto sangra em palavras. As palavras agridoces com as quais ensaio fotografar a minha vida. Salgadas fossem, talvez melhor o fizesse, pois lágrimas seriam. Sebastiana é a alma e sebastiana espera pela severina.

Ro Druhens
Lilya Corneli

Sinto o perfume distante de sua sombra, essa mancha escura que penetra o vazio da noite grudando, nas paredes, a insônia. Meus lençóis usurpam a esperança quieta dos passos. E ferindo a impossibilidade, deixo-me rasgar inteira com fúria, fome, descaso. Há na carne um vazio de odores. Como se os dedos tivessem levado consigo, minha essência.

Vássia Silveira

domingo, 28 de dezembro de 2008

Estudo sobre o silêncio II

Anne Aubrey

n’algumas coisas o silêncio
canta
n’outras arde
em mim.

Mariana Botelho

Estudo sobre o silêncio I

Anne Aubrey
ficamos imóveis
diante do imenso
pássaro de pedra:

silêncio

sólido impassível belo

falamos
e ele assume-se leve
ave emplumada
num vôo de morte.

Mariana Botelho

Não discuto

não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino.

Paulo Leminski

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Vem, vai, vão

Alone Gut
nada muda
tudo mudo
e acontece
esse
vem e vai
e eu
no vão.

Cáh Morandi

X

Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa

E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.

Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.

Hilda Hilst, in: Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão. Ed. Globo
De luas, desatino e aguaceiro
todas as noites que não foram tuas
Meninos e amigos de ternura
Intocado meu rosto - pensamento
Intocado meu corpo e tão mais triste
Sempre a procura do teu corpo exato
Livra-me de ti!
Que eu desconstrua meus pequenos amores,
a ciência de me deixar amar sem amargura,
e que me dêem a enorme incoerência de desamar amando.
E te lembrando - fazedor de desgosto - que eu te esqueça.

Hilda Hilst

Poema perto do fim

Lilya Corneli
A morte é indolor.
O que dói nela é o nada
que a vida faz do amor.
Sopro a flauta encantada
e não dá nenhum som.
Levo uma pena leve
de não ter sido bom.
E no coração, neve.

Thiago de Mello

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Agora em silêncio

Nonnetta
Sabe, acho que ninguém vai entender. Ou, se entender, não vai aprovar. Existe em nossa época um paradigma que diz: enquanto você me der carinho e cuidar de mim, eu vou amar você. Então, eu troco o meu amor por um punhado de carinho e boas ações. Isso a gente aprende desde a infância: se você for um bom menino, eu vou lhe dar um chocolate. Parece que ninguém é amado simplesmente pelo que é, por existir no mundo do jeito que for, mas pelo que faz em troca desse amor. E quando alguém, por alguma razão muito íntima, pára de dar carinho e corre para bem longe de você? A maioria das pessoas aperta um botão de desliga-amor, acionado pelo medo e sentimentos de abandono, e corre em direção aos braços mais quentinhos. E a história se repete: enquanto você fizer coisas por mim ou for assim eu vou amar você e ficar ao seu lado porque eu tenho de me amar em primeiro lugar. Mas que espécie de amor é esse? Na minha opinião, é um amor que não serve nem a si mesmo e nem ao outro.

Eu também tenho medo, dragões aterrorizantes que atacam de quando em quando, mas eu não acredito em nada disso. Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava haveria de existir em algum lugar do planeta! Haveria de existir! Nem que este lugar fosse apenas dentro de mim... Mesmo que ele não existisse mais em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, um banquinho cheio de almofadas coloridas e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banquinho do nosso amor, o nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a quantos anos, não sei, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas.

No mundo de cá, as relações se dão na superfície. Eu fico sobre uma pedra no rio e, enquanto você estiver na outra, saudável, amoroso e alto-astral, nós nos amamos. Se você afundar, eu não mergulho para te dar a mão, eu pulo para outra pedra e começo outra relação superficial. Mas o que pode ser mais arrebatador nesse mundo do que o encontro entre duas pessoas? Para mim, reside aí todo o mistério da vida, a intenção mais genuína de um abraço. Encontrar alguém para encostar a ponta dos dedos no fundo do rio - é o máximo de encontro que pode existir, não mais que isso, nem mesmo no sexo. Encostar a ponta dos dedos no fundo do rio. E isso não é nada fácil, porque existem os dragões do abandono querendo, a todo instante, abocanhar os nossos braços e o nosso juízo. Mas se eu não atravessar isso agora, a minha arte será uma grande mentira, as minhas histórias de amor serão todas mentiras, o meu livrinho será uma grande mentira porque neles o que impera mais que tudo é a lealdade, feito um Sancho Pança atrás do seu louco Dom Quixote, é a certeza de existir um lugar, em algum canto do mundo, onde a gente é acolhido por um grande amigo. É por isso que eu tenho de ir. E porque eu não quero passar a minha existência pulando de pedra em pedra, tomando atalhos de relações humanas. Eu vou mergulhar com o meu amigo, ainda que eu tenha de ficar em silêncio, a cem metros de distância. Eu e o meu boneco de infância, porque no meu mundo a gente não abandona sequer os bonecos que foram nossos amigos um dia.

Agora em silêncio, tentando ensinar dragões a nadar.

Rita Apoena

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Tremor

Me assusta
Quando tu
Não estás,
E teu aroma
Finca pelos ares
Eu te sinto,
Aqui permaneces.

Me assusta
Quando estou
A te convocar,
E anseio tua voz
Sobre luares
Eu te vislumbro,
Aqui enterneces.

Me assusta
Quando te sonho
A me violar,
E me resta supor
Que depares
Eu te pretendo,
Aqui resplandeces.

Sumariamente
Assusta meu ser,
Quando
Enlouqueço
Por te reter,
E tu me estremeces.

Cris de Souza

Retoque

Serenade for the Doll
Teu
traço
em mim
permanece,
ainda assim
estou a procura
de teus
contornos
A te esperar
despida
A te almejar
remexida
A te relembrar
perdida
pra te retocar.

Cris de Souza

Fugaz

Atônito
Inconter
Sentimento
Que apronta
E respira

Ufânico
Perceber
Alumbramento
Te encontra
E revira

É quando, eu me pego...
É tanto, eu me entrego...
À mercê do pensamento
Que escapa e te relê.

Cris de Souza

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Entorpecente

Serenade for the Doll
Cobre-me aéreo,
Dom das delícias
Despe-me do sério,
Tom das malícias
Tal vinho
Que deságua...
Qual marinho
Que embriaga...
Confesso
Que pra ele,
Meu não é um sim
Confesso
Que o sim dele,
Derrama por dentro
De mim

Cris de Souza

sábado, 20 de dezembro de 2008

So(m)bra

meu corpo
projeta vultos
do que fomos:

projetos incultos,
sobras obscuras,
escombros,
passado morto...

quando te pressinto
tão íntimo,
que dentro;
tão incontido,
que transborda,
me assombro.

também sinto medo
quando percebo sua sombra
batendo à minha porta
e a atendo.

Valéria Tarelho

Revoo

Lilya Corneli
dia desses
deixei um bilhete
na porta do freezer:

"fui ali ser feliz
e já volto"

aí saí afoita
ao encontro
dessa tal felicidoida

o curioso foi que a vi
frente a frente

o triste
é que voltei
como disse.

Valéria Tarelho

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Borboletas

As borboletas
Asas nuas
Navegam na poeticidade do momento
Vaga marulha
Na floresta sem água salgada
Apenas uma ponte sobre o pequeno rio
Das minhas saudades.

Simone Santana

Minhas rimas

Lilya Corneli
não têm rumo
não se arrimam
não se arrumam
não se arredam
não se arriscam
não se arranjam
não se arrulham
não se arrepiam
mas se arrastam

arruinam-me.

Líria Porto

Hyde Park (Crônica de um amor louco)

Serenade for the Doll
desde o dia em que ouvi o barulho
da porta batendo
fiquei anos sem ouvir barulho
de porta batendo
o médico diz é surdez
eu digo é que nunca mais
abri as portas.

Bruna Beber

You got me going in circles

Serenade for the Doll
ia falar do tempo e da temperatura
do teu beijo
mas eu não lembro
quem sabe o tempo clareia
essa lembrança
ou quem sabe você queira
poupá-lo desse imenso trabalho.

Bruna Beber

Presença

Não vim para ficar:
não sou senão minha possibilidade de volta
minha indizível presença
que se resvala
no espanto de ser

Vim
provisoriamente
desafiar o século
anistiar meu susto
traduzir no tempo
este absurdo de nós

Não cheguei tarde
porque tarde é para os incrédulos
e os fantasmas que não se vingaram em vida

E porque nem tudo está falado:
o mundo ainda é uma esfinge
que devora os mudos
e os simplesmente chegados.

Maria Esther Maciel

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sem Palavras

Lilya Corneli
por que que me fiz
só e triste
sem palavras?

o rosto escasso
traça os silêncios
que empenho

sucedo
horizontes vagos
rotas sem metas

espera vã
da hora súbita
por que dizer.

Helena Parente Cunha

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Menina

Lilya Corneli
do fundo
de minha retina
retirei uma
imagem

eu nunca a havia visto

e era toda
feita
da umidade dos meus
olhos.

Mariana Botelho

Vão

eu queria guardar teu
sorriso o tom
de tua voz teu
cheiro

mas só cabe ausência
nesses potes cheios
de
solidão.

Mariana Botelho

Pássaro

Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.

Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.

Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.

Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.

Cecília Meireles, in: Retrato Natural / Antologia Poética. Ed. Nova Fronteira

Menina

Gorjuss
Não precisa ficar com medo. Quando a sua mãe não abrir a porta e você passar o dia todo para o lado de fora, eu vou brincar com você e te abraçar tão forte que este sentimento de abandono irá se transformar em mil e quinhentas borboletas no ar, rodopiando em seu cabelo, fazendo cócegas em sua barriguinha. Então, você irá entender que sua mãe não pode abrir a porta porque dentro do quarto onde ela chora, faz tanto frio e tanto medo que o jeito mais bonito que ela encontrou de te amar foi te deixar para o lado de fora.

Rita Apoena

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

III

Katia Chausheva
Frêmito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...

Florbela Espanca

sábado, 6 de dezembro de 2008

Cefaléia

Serenade for the Doll
quando fico ácida
sai de baixo

põe-te sobre meu corpo
e faz os movimentos
até que eu me esqueça
da dor de cabeça.

Líria Porto

Radiofônico


ouve-se o mar
em ondas longas
e curtas.

Líria Porto

Boca a boca

quando meu amor falou
tenho carunchos no pulmão
não consegui nem chorar

meu peito doeu
meu coração doeu
minha alma doeu
pensei
: não há de ser nada
respiro por nós.

Líria Porto

Incondicional


não me queiras bem ou mal por uma pétala,
por um gesto a mais ou um deslize.
Quere-me pelo todo.
Corola, miolo, haste, folhas,
cor, espinhos, pólen,
perfume,

raízes.

Líria Porto

Delonga

palavras não cabem
no espaço das estrelas

despetalo-as letra por letra
incinero-as
livro-me das cinzas

(não das vermelhas e das roxas).

Líria Porto

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Avesso

Alone Gut
pode parecer promessa
mas eu sinto que você é a pessoa
mais parecida comigo
que eu conheço
só que do lado do avesso

pode ser que seja engano
bobagem ou ilusão
de ter você na minha
mas acho que com você eu me esqueço
e em seguida eu aconteço

por isso deixo aqui meu endereço
se você me procurar
eu apareço
se você me encontrar
te reconheço.

Alice Ruiz

Um poema para nós

Alone Gut
Ninguém acredita da forma
que a gente se cola e gruda
uma pele na outra, nuas
a coisa vira tão única
que nessa loucura
um corpo no outro
a gente tatua;
O que irão dizer
todos os sábios
quando souberem
que em um abraço
a gente ocupa
o mesmo lugar
no espaço?

Cáh Morandi

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Envelhecer

se já me chega a estação das folhas
mortas e dos parcos grãos
guardo em mim um resto de verão
talvez uma perdida primavera
— revivida —
antes que definitivamente
se instale o inverno
em minha vida.

Márcia Maia

Liberdade

... Sangrando e sangrento. Um murmúrio, um sussurro: Suzana, Suzana, Suuu... corro assustada, tropeço na escuridão, galhos e folhagens fantasmas malignos acariciam meu rosto, tateiam meu corpo, Suzana, Suzana, Suuu... acaricio-me selvagem, gotas de orgasmo pingam das nuvens, a lua semicoberta sorri caolha...

Suuu... sirenes, holofotes, latidos de cães, mergulho nas águas, flutuo na correnteza, liberdade!

... Faca cortando a pele, rasgando a carne, estropiando o corpo, sangue escoando, pingando do rosto, afogando minha alma ...

... A liberdade se afasta, me ilude, me escapa!

Dominique Lotte

Borboletas são Livres

Borboletas são livres.
Minha alma também.
Anseio liberdade, beleza e amor
De ir, vir e sentir.
Paixão, ar, calor.
Preciso criar...
Voar.
Sentir o vento nos cabelos.
Mas os pés no chão.
Quero abraço.
Mas quero espaço.
Mulher borboleta.
Pequenina e voraz.
Tem um vôo que seduz.
Uma beleza que satisfaz.
Possuidora de uma leveza que conduz.
Sua fragilidade lhe faz, uma mulher que reluz!
Precisa de arte.
Precisa que invada.
Que o coração dispare.
Que a saudade mate.
Não a prenda.
Traga flores para que venha.
Ela não é para qualquer um.
Ela é da natureza.
Ela é dela.
Tranque-a e ela morre.
Sopre-a no vento...
Que ela vai.
Mas espere.
Pois ela volta.

Carolina Salcides